Sob a ótica Espírita da Reencarnação, a criança é um Espírito imortal, detentor de imensa bagagem de experiências vivenciadas em outras épocas, herdeira de si mesma, que retorna à Terra, a fim de adquirir novos conhecimentos e, principalmente, de reformular sua maneira de proceder, ajustando-a, tanto quanto possível, aos postulados do Evangelho de Jesus. Assim, aprende-se, no Espiritismo, que a reencarnação tem por objetivo o prosseguimento da jornada evolutiva do Espírito.
Ao responderem a Kardec a respeito da utilidade de passar pelo estado de infância, os Espíritos Superiores atribuíram a responsabilidade da execução dos procedimentos educativos, não só aos pais, mas a todos aqueles que têm oportunidade de propiciar à criança ensinamentos e exemplos que a ajudem a adquirir novos conhecimentos e a reformular seu modo de proceder, ou seja, de reeducar-se através do esforço consciente, no sentido de exteriorizar sua luz, herança divina de que todos os Espíritos somos dotados, conforme ensinamento de Jesus (Mt, 5: 16).
Dentre esses “incum- bidos de educá-lo”, conforme
expressam os Espíritos (O ESE, cap. 14, item 8), estão os evangelizadores da infância, ligados a esses irmãos recém-chegados do Mundo Espiritual, não pelos laços da consangüinidade nem do parentesco físico, mas pelos mais sagrados elos da nobre tarefa assumida perante o Evangelizador Maior.
Entende-se, assim, que foram admitidos num trabalho que é continuação daquele iniciado no Mundo Espiritual, na preparação do Espírito para sua volta às lides terrenas.
Ao ser considerada a Escola Espírita de Evangelização como um Posto Avançado do Mundo Espiritual, deve-se meditar sobre a extensão e a responsabilidade da tarefa que é atribuída ao evangelizador.
Consciente dessa grave responsabilidade, qual seja a de iluminar consciências, urge que se prepare convenientemente através da oração sincera, da meditação serena, do estudo edificante, a fim de que a sua palavra, portadora de carga magnética gerada na convicção profunda, e não apenas na informação superficial, possa tocar os pequeninos, pois quem não está convencido do que diz, raramente consegue convencer alguém.
Como exemplo, é oportuna a lembrança das palavras do Benfeitor Alexandre, citadas no livro “Missionários da Luz”, à página 311: “O companheiro que ensina a virtude, vivendo-lhe a grandeza em si mesmo, tem o verbo carregado de magnetismo positivo, estabelecendo edi- ficações espirituais nas almas que o ouvem. Sem essa característica, a doutrinação, quase sempre, é vã. Desse modo, a palavra suave, embora firme, abrirá as portas do
entendimento dos jovens e das crianças, propiciando a semeadura das lições do Evangelho, agora explicado à luz da Doutrina Espírita.
Deve, o evangelizador, ter consciência de que a Escola Espírita de Evangelização é, malgrado o pouco tempo de que dispõe para o convívio, apesar da incompreensão da maioria dos dirigentes de centros espíritas, e das dificuldades materiais, é a escola que mais esclarece no mundo, aquela mais propícia à implantação dos tempos novos, face aos ensinamentos libertadores, capazes de levar o evangelizando a uma mudança de mentalidade, que o capacitará a colaborar efetivamente na implantação de uma sociedade mais justa, mais humana, mais fraterna, conforme preconizam os Espíritos.
Tendo isso em mente, deve o evangelizador meditar sobre o que ele representa para aqueles, que o observam efetivamente como referencial.
Assim pensando, deve o evangelizador empenhar-se, com toda a força do seu entendimento, no sentido de aprimorar-se cada vez mais para a execução do seu trabalho. Esse aprimoramento envolve três aspectos principais, que devem ocupar o primeiro plano das suas preocupações: o pensar, o sentir e o fazer.
O pensar leva-o à reflexão, à conscientização plena do valor do seu trabalho. Quando medita sobre sua atuação no setor de evangelização e orientação espiritual, deve avaliar o nível do seu comprometimento com a tarefa; que espaço ela ocupa em sua mente; quantas horas por semana dedica ao preparo da mensagem que levará aqueles que esperam dele a orientação, a fim de que caminhe com segurança neste mundo tão conturbado da atualidade. Sem que se julgue grande missionário ou Espírito iluminado, é justo que tenha consciência da relevância e do valor da tarefa a que se dispõe,
ainda que a sua turma de evangelizandos seja pequena, ou turma de um só!
E quando o assalte alguma dúvida a respeito da validade do seu esforço, deve lembrar-se de que no trabalho mediúnico de desobsessão – que deveria denominar-se “evangelização do desencarnado” – um grupo de várias pessoas se empenha, às vezes durante muito tempo, no encaminhamento de um único Espírito que trilha caminho equivocado, não raro por não ter sido evangelizado na infância e na adolescência.
Aos serem examinados os resultados das tarefas desenvolvidas nas instituições espíritas, fica evidente que a Evangelização é a atividade importantíssima, de vez que beneficia o Espírito desde a fase infantil, influenciando seu proceder, dando-lhe diretrizes que o ajudarão não só nesta sua passagem pela Terra, mas que servirão como farol a iluminar-lhe a consciência em sua vida de Espírito imortal.
Por isso é que, embora reconhecendo o valor das outras tarefas desenvolvidas nos centros espíritas, chega-se facilmente à conclusão de que a Evangelização deveria ter primazia, deveria ser atividade olhada com a maior responsabilidade por parte dos dirigentes das instituições espíritas.
É a consciência profunda do insubstituível valor da tarefa que deve alentar o evangelizador nos momentos de desânimo, quando a incompreensão, a falta de espaço fí-sico, de material apropriado, a falta de cooperação dos próprios pais, as dificuldades com a criança – todas essas dificuldades quiserem tirá-lo dessa seara bendita a que foi convocado.
O Evangelizador deve empenhar-se, também, no desenvolvimento da sua capacidade de sentir. Todos temos, em nós o amor, em estado de latência. Essa herança divina, que o Espírito vai revelando através dos séculos sucessivos, pode ter sua exteriorização acelerada pelo esforço consciente da criatura. E o evangelizador é desafiado ao esforço de amar, pois quem não ama não tem condição de suscitar nos pequeninos o desejo de amar.
E, quando após anos de trabalho junto a uma criança souber que ela se “desviou”, o evangelizador não deve desanimar, julgando perdido todo o seu esforço ao longo de anos sucessivos. O Bem nunca se perde. Mais cedo ou mais tarde, às vezes com o concurso da dor, as sementes recolhidas com os risos da infância germinarão, até mesmo regadas pelas lágrimas na idade adulta. ▪
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