A que horas começa sua macumba?
Manoel ouviu sem alterar-se a indagação de Gervásio, irreverente colega de serviço, na repartição pública onde trabalhava. Todos conheciam sua condição de espírita, mas sempre encontrava pessoas que confundiam o Espiritismo com práticas ritualísticas africanas.
Procurando ser bem explícito em sua resposta, abriu o dicionário e leu para seu colega:
-“Macumba; cerimônia fetichista com influência cristã, acompanhada de danças e cantos ao som de tambores.”
Concluindo, acrescentou:
- Pelo que me foi dado ver, meu caro, não tenho condições para responder à sua pergunta, porquanto não freqüento nenhum grupo dedicado à macumba. Se deseja conhecer o Centro Espírita do qual participo, terei prazer em recebê-lo. Estou dirigindo uma reunião às terças-feiras, às dezenove e trinta horas.
Gervásio agradeceu sorridente e prometeu que compareceria oportunamente. No entanto, no dia seguinte, totalmente alheio ao entendimento anterior, e na presença de vários colegas, Gervásio perguntou novamente:
- A que horas começa sua macumba?
Manoel concluiu que já não se tratava de simples mal entendido. O companheiro estava mesmo com gozação, pretendendo rir às suas custas. Ainda assim, sem se alterar respondeu tranqüilo:
- Às dezenove e trinta.
Gervásio gostou da brincadeira. Por muito tempo, diariamente, com a fidelidade dos que gostam de azucrinar o semelhante, trovejava para todos ouvirem:
- A que horas começa sua macumba?
Manoel começou aborrecer-se. Afinal, a expressão “macumba” era usada com conotação negativa, associada à magia negra, despachos e coisas encomendadas. Referir-se assim ao Centro Espírita – pensava ele – era, no mínimo, um desrespeito. Mas jamais revidava; sem se alterar respondia calmamente: – às dezenove e trinta.
Passaram-se vários meses. O curto diálogo, repetido sempre no início do expediente, parecia refrão de música popular, com a precisão de notas musicais ordenadas em pauta:
- A que horas começa sua macumba?
- Às dezenove e trinta.
Até que, numa reunião de terça-feira, no Centro, Manoel surpreendeu-se com a presença de Gervásio.
- Prazer em vê-lo, meu amigo! Veio conferir o horário da nossa macumba?
- Não, Manoel. Vim mesmo para ver o que ensinam aqui. Deve ser algo muito bom, pois lhe deu paciência para resistir à minha gozação por tanto tempo! E se há algo que preciso é de paciência! A vida não está fácil! Tenho muitos problemas ... meu filho mais velho ........
Na proporção em que ajustando-nos aos postulados espíritas formos capazes de exercitar a serenidade e o equilíbrio, fatalmente despertaremos interesse pela Doutrina naqueles que convivem conosco, porquanto tais valores, que fazem parte das aspirações mais caras da criatura humana, são escassos no conturbado mundo atual.
Por isso, hoje e sempre, o mais eficiente recurso para demonstrarmos a excelência do Espiritismo é o nosso próprio comportamento. ■
Do Livro Endereço Certo/Richard Simonetti
Manoel ouviu sem alterar-se a indagação de Gervásio, irreverente colega de serviço, na repartição pública onde trabalhava. Todos conheciam sua condição de espírita, mas sempre encontrava pessoas que confundiam o Espiritismo com práticas ritualísticas africanas.
Procurando ser bem explícito em sua resposta, abriu o dicionário e leu para seu colega:
-“Macumba; cerimônia fetichista com influência cristã, acompanhada de danças e cantos ao som de tambores.”
Concluindo, acrescentou:
- Pelo que me foi dado ver, meu caro, não tenho condições para responder à sua pergunta, porquanto não freqüento nenhum grupo dedicado à macumba. Se deseja conhecer o Centro Espírita do qual participo, terei prazer em recebê-lo. Estou dirigindo uma reunião às terças-feiras, às dezenove e trinta horas.
Gervásio agradeceu sorridente e prometeu que compareceria oportunamente. No entanto, no dia seguinte, totalmente alheio ao entendimento anterior, e na presença de vários colegas, Gervásio perguntou novamente:
- A que horas começa sua macumba?
Manoel concluiu que já não se tratava de simples mal entendido. O companheiro estava mesmo com gozação, pretendendo rir às suas custas. Ainda assim, sem se alterar respondeu tranqüilo:
- Às dezenove e trinta.
Gervásio gostou da brincadeira. Por muito tempo, diariamente, com a fidelidade dos que gostam de azucrinar o semelhante, trovejava para todos ouvirem:
- A que horas começa sua macumba?
Manoel começou aborrecer-se. Afinal, a expressão “macumba” era usada com conotação negativa, associada à magia negra, despachos e coisas encomendadas. Referir-se assim ao Centro Espírita – pensava ele – era, no mínimo, um desrespeito. Mas jamais revidava; sem se alterar respondia calmamente: – às dezenove e trinta.
Passaram-se vários meses. O curto diálogo, repetido sempre no início do expediente, parecia refrão de música popular, com a precisão de notas musicais ordenadas em pauta:
- A que horas começa sua macumba?
- Às dezenove e trinta.
Até que, numa reunião de terça-feira, no Centro, Manoel surpreendeu-se com a presença de Gervásio.
- Prazer em vê-lo, meu amigo! Veio conferir o horário da nossa macumba?
- Não, Manoel. Vim mesmo para ver o que ensinam aqui. Deve ser algo muito bom, pois lhe deu paciência para resistir à minha gozação por tanto tempo! E se há algo que preciso é de paciência! A vida não está fácil! Tenho muitos problemas ... meu filho mais velho ........
Na proporção em que ajustando-nos aos postulados espíritas formos capazes de exercitar a serenidade e o equilíbrio, fatalmente despertaremos interesse pela Doutrina naqueles que convivem conosco, porquanto tais valores, que fazem parte das aspirações mais caras da criatura humana, são escassos no conturbado mundo atual.
Por isso, hoje e sempre, o mais eficiente recurso para demonstrarmos a excelência do Espiritismo é o nosso próprio comportamento. ■
Do Livro Endereço Certo/Richard Simonetti
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